quinta-feira, 30 de abril de 2015

dia não sei quantos à melhor de quinta: igual ao litro

Acho que fui trabalhar. Voltei. Fui. Voltei e fui e voltei. Não tarda vou. Parece que é isso o ir trabalhar. Entretanto escrevi dois contos e um poema...mentalmente. Pensei que me recordaria, mas a essência da escrita mental está precisamente em não nos lembrarmos daquilo que escrevemos. Chama-se mentalfémera ou psicocionismo, conforme o desvario do momento, a esta modalidade (deixem passar) de escrita mental, profundamente efémera e assim dotada de um certa religiosidade antiga, alicerçada (obrigatoriamente) na tradição oral e, sobretudo, dependente da (boa) memória. Ora a memória já não faz parte de qualquer manual de bons costumes da actualidade, onde o conhecimento resulta de uma mistura em partes iguais entre a humidade relativa do ar e o é igual ao litro, e os livros físicos se distinguem apenas pelas suas capas garridas, com relevos, adornados por fitinhas ou saquinhos de chá (juro!). Nesse sentido, este modalidade promove uma de duas coisas: ou se cultiva a tradição oral e a memória e então esses contos, histórias e poemas não se perdem, à imagem de outros da antiguidade; ou, a película efémera tudo reveste, participando dessa forma em toda a sua plenitude no absurdo passageiro dos nossos dias, sem que ninguém (a melhor parte é esta) se aperceba sequer disso. Em suma, uma forma de recusa, perfeitamente adequada ao nosso tempo, não lhe faltando sequer um dedo janota bem espetado no ar. Não tarda vou.

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